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Inflação alta corrói o rendimento da poupança

Caderneta acumula perda de poder aquisitivo de 1,06% em 12 meses, até maio, o que é o pior resultado em 11 anos

A sequência de aumentos da taxa básica de juros Selic, atualmente em 13,75% ao ano, ajudou as aplicações em renda fixa a ter rendimento real (ganho acima da inflação) porque elas estão atreladas ao CDI (Certificado de Depósito Interbancário, taxa que acompanha a Selic). 

Ainda assim, o ritmo de alta da inflação continua mordendo os rendimentos de algumas aplicações. E a que mais teve perdas neste contexto é a caderneta de poupança, que no período de 12 meses até maio teve o pior resultado em 11 anos, segundo levantamento da Economatica. 

Para se ter uma ideia, o rendimento líquido da caderneta foi de 0,62% no mês passado, mas o retorno real (descontado a inflação) ficou negativo em 0,12%. A consultoria diz que este é o sexto mês consecutivo que o poupador tem perdas. Nos último 50 meses até maio, a poupança teve perda de poder aquisitivo em 23 meses. 

Ao mesmo tempo, crescem os saques na caderneta de poupança. Só em maio, as retiradas superaram os depósitos em R$ 3,2 bilhões. 

Apenas nos primeiros cinco meses deste ano, a perda do valor real do dinheiro na poupança foi de 2,15%. 

Se considerados os últimos 12 meses até maio, o poder aquisitivo de quem tem dinheiro na caderneta de poupança - ou seja, o rendimento descontado a inflação - caiu 1,06%. Segundo dados da Economatica, é a maior perda aquisitiva anualizada desde outubro de 2003, quando a rentabilidade anualizada teve queda de 1,90%. 

A inflação oficial medida pelo IPCA foi de 0,74% em maio, mas em 12 meses atingiu 8,47%. A caderneta teve perda de ganho real porque rende 0,5% ao mês mais a TR (Taxa Referencial). O que atrai os poupadores, no entanto, não é o retorno e sim a simplicidade dessa aplicação, que não incidência de Imposto de Renda (IR). 

Emerson Marçal, coordenador do centro de Macroeconomia Aplicada da Escola de Economia de São Paulo da FGV (Fundação Getúlio Vargas), avalia que a inflação realmente tem tornado o juro real não tão alto assim. "A inflação faz as famílias ficarem com o orçamento apertado e a cortarem gastos. O fato de o juro subir pode ajudar as aplicações no CDI, mas ainda assim, é melhor proteger os recursos da inflação", diz. 

A Economatica mostra que mesmo o CDI teve perda de rentabilidade real de 0,51% nos cinco primeiros meses deste ano. Em 12 meses até maio, porém, o retorno real do CDI foi de 2,83%. De dezembro de 2010 a maio deste ano, o ganho real foi de 13,45%. 

Entre os fundos de investimentos conservadores e atrelados ao CDI - o de renda fixa conseguiu oferecer ganho real de 0,38% em maio e de 0,20% no acumulado do ano. O rendimento bruto dessa categoria de fundo, segundo a Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) foi de 1,12% em maio e de 5,55% no acumulado do ano até maio. 

Outro fundo que venceu a inflação foi justamente o de índices - categoria que acompanha índices formados com base nas carteiras de títulos indexados à inflação. O retorno, já descontado a inflação, foi de 1,09% em maio e de 1,59% nos últimos cinco meses. 

Em maio, os fundos DI e de curto prazo tiveram ganho real de 0,26% e de 0,24% respectivamente. A rentabilidade real foi pequena e ficou negativa no acumulado do ano. 

O fundo DI teve perda real de 0,44% e o de curto prazo, queda real de 0,53% nos cinco primeiros meses deste ano. Isso porque, a inflação no acumulado deste ano, de 5,34%, foi maior do que o retorno bruto oferecido por essas aplicações, de 4,88% e de 4,78%, respectivamente.

É importante lembrar que o cálculo da rentabilidade (ou retorno) real apenas desconta a inflação - e assim é bem diferente do rendimento líquido, que é aquele que também expurga as taxas de administração e impostos. 

"Boa parte das aplicações teve retorno real, mas é preciso descontar as taxas e impostos, que vão de 27,5% a 15% no caso dos fundos e títulos. A tendência dos próximos meses é que a renda fixa, os fundos DI e os títulos públicos consigam ampliar o ganho real porque o juro continua subindo", diz Fabio Colombo, administrador de investimentos. 

Quem teve ganhos expressivos no acumulado deste ano é quem teve mais apetite ao risco de ativos como dólar, euro e ouro. São alternativas de forte volatilidade e, assim, podem valorizar e desvalorizar em curto espaço de tempo. No entanto, ao descontar a inflação da valorização desses ativos é possível observar retorno real. 

A maior rentabilidade real no acumulado do ano até maio foi o de investimentos que seguem a valorização do ouro, com 14,12%. 

No mesmo período, a segunda maior rentabilidade real foi a de aplicações atreladas ao dólar, de 13,61%. Na mesma base de comparação, o euro ofereceu retorno real de 2,79%.

Com volatilidade, os investimentos atrelados ao Ibovespa (principal índice da Bolsa de Valores) acumularam ganho real de 0,16% nos cinco primeiros meses deste ano. 

Estas aplicações, porém, tiveram perda de poder aquisitivo de 5,07% no período de 12 meses até maio. O levantamento da Economatica mostra que nos quatro anos e cinco meses do governo Dilma Rousseff, a bolsa teve perda de 43,11% se descontada a inflação do período.