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A adoção do cloud computing como estratégia empresarial
Antes de adotar o cloud, há vários aspectos a serem considerados.
Uma mudança significativa provocada pelo modelo de cloud computing e que tem sido pouco debatida é a que ocorre na relação entre provedores e consumidores de recursos de produtos e serviços de TI. O modelo de relacionamento deixa de ser transacional, com o vendedor preocupado em apenas fechar uma transação comercial, para ser colaborativa, onde o sucesso é medido pela continuidade do contrato, com responsabilidades compartilhadas. No caso da venda de hardware e software vemos claramente a diferença. Hoje após uma venda de um servidor ou da licença de um software, um uso pouco eficiente da máquina ou baixo aproveitamento das funcionalidades do software não é de responsabilidade do vendedor, apenas do cliente. Lembremos que no modelo atual a taxa média de utilização de servidores gira em torno dos 5% a 15%.
Já o modelo de cloud é colaborativo por excelência. Por exemplo, upgrades de hardware e software ficam a cargo do provedor. Backup e segurança é uma atividade executada pelos provedores, mas legalmente a responsabilidade é da empresa. Para isso, o provedor tem que ser co-responsável pela fluidez da operação do dia a dia.
Antes de adotar o cloud, há vários aspectos a serem considerados. O primeiro é deixar bem claro para ambos os lados quais os papéis e responsabilidades de cada um. A empresa que imaginar que colocando tudo em cloud a liberará de toda e qualquer responsabilidade pelos recursos de TI está enganada e se frustrará. Ela não precisa mais se preocupar com questões de infraestrutura, mas continua precisando manter um processo de governança de TI adequado. Além disso deve olhar cloud computing como uma mudança que extrapola TI. Se considerar cloud como uma simples questão de infraestrutura, conseguirá com certeza mais velocidade e menores custos operacionais, além de trocar o CAPEX (investimento em máquinas) pelo OPEX (investimento operacional), mas estes benefícios não se traduzirão em vantagens competitivas sustentáveis pois ao longo do tempo praticamente todas as empresas também estarão operando em cloud. O jogo ficará novamente empatado.
As tecnologias estão cada vez mais acessíveis e baratas e a diferença competitiva entre as empresas se dará pelo grau de serviços inovadores e difíceis de serem imitados pelos concorrentes que ela conseguir lançar. Cloud computing tem uma característica interessante: ao trocar CAPEX por OPEX permite que mesmo empresas pequenas tenham acesso a recursos formidáveis de TI, antes só acessíveis a empresas com muito capital. Este cenário cria um grande desafio: se a empresa adotar cloud computing como mera questão tecnológica estará no mesmo patamar das demais. Ou pior, poderá ter concorrência de empresas que antes estavam fora de seu radar, pelo seu menor porte. Com cloud o diferencial CAPEX perde seu valor. Assim ela deve pensar em cloud como meio de alavancar negócios, produtos e serviços inovadores.
Sugiro que cloud computing seja encarado como uma ação estratégica, onde o potencial de dispor de recursos computacionais, em tese ilimitados, permite que a empresa se concentre no seu core business, criando inovações continuamente. Para isso deve escolher um provedor que tenha capacitação e capital suficiente para evitar eventuais riscos de operação em ambientes tecnológicos obsoletos devido aos ritmos cada vez mais acelerados das evoluções tecnológicas. Estas evoluções devem ser disponibilizadas para que a empresa continue em condições de manter um fluxo de inovações contínuo. Um fator importante de diferenciação entre provedores é a sua experiência no ambiente corporativo. É o caso da IBM, cujo foco sempre foi o segmento empresarial.
A relação entre provedor e cliente, impulsionada pelo modelo de cloud, deve ser simbiótica. Isto implica que o provedor deve ter uma clara visão de como os seus serviços de cloud podem ajudar seu cliente, bem como o cliente deve se sentir confiante quanto ao provedor estar trabalhando de forma colaborativa. Ações oportunistas, típicas das relações um ganha e outro as vezes perde, como ocorre em muitas vendas transacionais, não tem lugar em um relacionamento mais estreito como o que o modelo de cloud demanda. Esta associação positiva acaba se refletindo nas negociações e contratos, e, provavelmente, culmina com a percepção mutua que ambos estão realmente trabalhando em colaboração. Aliás, diversas pesquisas demonstram que a confiança nas relações entre empresas é um fator de extrema importância para que a relação comercial seja positiva.
Adotar cloud pelo viés simplista, de ser apenas uma terceirização de infraestrutura traz beneficios, mas não garante vantagens competitivas sustentáveis. Afinal é provavel que no fim da década nem falemos mais em cloud computing e sim em computing, pois cloud será o nosso paradigma de consumo de recursos computacionais. Para garantir estas vantagens a empresa deve estar continuamente inovando e para isso tem que buscar um relacionamento de confiança com seus provedores de serviços de nuvem. Com relacionamento de confiança, reduz-se conflitos e aumenta-se a cooperação e desta forma a empresa pode se concentrar exclusivamente no seu negócio e buscar a inovação contínua.